As
saudades de ver e conviver, ao invés, de ficar por telefonemas rápidos ou
mensagens escritas, são o mote. É verão, assim chega o pretexto para marcar
vontades pendentes. Nesta altura, acontece as agendas dilatarem. Aceitei o
convite, avançamos numa sugestão de última hora. Grandes janelas, parece um
aquário. À volta, fora as janelas, um ar tão americano que parece estranho. As
cores, o chão, os móveis e os acessórios. O empregado prestável, num português
compreensível. Entre a carta e o pedido, vamos conversando. Pergunta por
novidades. Nenhuma, pois já as havíamos contado. Sem que lhe provocasse, diz-me
que não vai casar. Nem ontem, nem nunca. Por pudor, adiei a questão seguinte.
Mas desconfio que o seu feitio dedicado, a sua postura rude e a consciência no
lugar certo, a afastam de relações duradouras. De, eventualmente, relações que
justifiquem o casamento. Têm medo, diz-me enquanto ri. E, nessa lógica de
raciocínio, é bem provável que seja verdade. Não é fácil, numa sociedade
aquário, viver fora de órbita. Ser uma mulher convicta e actual, em detrimento,
de parecer uma mulher normal. Quer usar saltos altos, uma LV na mão, o cabelo
arranjado, lábios encarnados e uma saia ao mesmo tempo que exige sexo com
prazer e solta um foda-se. Ainda, se lhe apetecer, quer calçar umas sandálias,
levar uma alcofa ao ombro e uns calções daquela loja das massas, enquanto bebe
um gin ao fim da tarde. Não te
estragues, boa amiga. Vai levando com gosto, que não te cansas. Aquários há,
que têm espécies de alto requinte.
Há muitos homens que apreciam mulheres fortes, determinadas e de bem com elas próprias e com a vida, para conversar, para admirar, para levar para a cama uma ou outra vez, se houver clima para isso. Mas, para assumir um compromisso, é mais complicado. Medo de serem ofuscados. Medos de ficarem na sombra. Medo de não ficarem por cima (e, aqui, já não é de cama que estou a falar. também sei falar de outras coisas :p). Basicamente, medo de não serem o sexo forte, seja lá o que esta expressão queira dizer.
ResponderEliminarMam'Zelle Moustache,
EliminarPrecisamente. Conheço alguns homens que preferem esse conjunto de qualidades para uma eventual relação isolada, uma noite. Outros, inclusivamente, nem chegam a esse ponto. Ficam pela troca de putativos interesses. Naquele jogo meio ambíguo, também legítimo, se ambos se interessarem por ele.
Também é verdade, a sociedade vive recheada de conceitos e preconceitos tão matizados, que muitos deles são, por demais, obsoletos. Seja na definição do homem, desde logo, como sendo o sexo forte, seja na presunção de que o homem domina, na cama, ficando por cima, na rotina, dando o mote.
Enfim. Pelo que vivo e vejo à minha volta, as vivências vão mudando. Ao ritmo da evolução que, bem sabemos, é sempre demasiado lento. Emancipação não é só um termo. É um direito. Que seja cumprido ;)