Numa
pausa inócua, inopinadamente entretido com minudências. Estaria, algures entre
as minhas notas no caderno preto, as minhas garatujas no dito caderno – que tenho
tamanha vergonha na cara que apelido os desenhos que vou fazendo como me parece
definir melhor o desmérito, - na secretária de sempre, no computador de algumas
horas, no telemóvel e nos e-mails e nas fotografias que lá guardo. Na máquina
fotográfica que, sem preparação, faleceu. Paz. À sua alma. Ao momento em que
paro para ouvir as músicas de tanto tempo. Ainda, não sendo seguidor de uma
certa burguesia, que raras vezes aventam fazer parte da estrutura, estaria no Instagram ou a ler um qualquer texto de
um fazedor de opinião. Numa mensagem escrita, falava-me do evento. Havíamos de
ir, antes de descermos, continuava. Atraiçoa-nos a pressa dos dias. Sem soluços
maiores, num relâmpago mais precoce, eis o dia certo. O recinto alargado, a
terra algures sossegada, o palco principal lá ao fundo, em destaque. Ao lado,
outros, menores. Fica-lhes o talento buliçoso. Que não tem tempo para brincadeiras
alargadas. Nunca de somenos relevância. O espaço compõe-se à velocidade de um
vídeo apressado. Aglomeram-se junto ao palco maior, dando primazia aos cabeças-de-cartaz.
A curiosidade aguça. Vêem-se, também, pequenos grupos. Amigos e conhecidos em
amena convivência. Impera e reina a boa disposição. O corpo pede conforto, os
acessórios gritam por socorro. Numa nota mísera, os chapéus ainda estão na
moda. As marcas fazem o seu trabalho e, no recinto, estão ao nível das
tatuagens. Estão em todo o lado. Chegada a hora, o palco faz vibrar, braços ao
alto, mãos num movimento frenético. Entre luzes, som e adrenalina, gritam os
espectadores entusiasmados. Sobrevivem, naquela excitação, os telemóveis que
alumiam. A fotografia da despedida, o adeus resumido numa mão bamba. De cigarro
na boca, ao jeito de um retrato a preto e branco. Foi assim, em grande escala.
Numa outra pausa, rir-nos-emos do resto. É sempre assim.
Já não vou a concertos há algum tempo. Vendi os bilhetes que me ofereceram nos meus anos para ir ver os Muse, quando soube que a Bolachita estava a caminho. Fez dois anos no mês passado. Desde então, não mais senti aquela adrenalina de ver músicos ao vivo. O que vale é que a causa é boa. A melhor de todas. :)
ResponderEliminarEu sei - sou suspeita. Mas quase que poderia dizer que as minhas palavras vivem na música. Por isso te entendo tão bem. E adoro os teus retratos a preto e branco, sem precisar de imagem. :)*
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