Ao
sabor de um cigarro e depois outro, vamos conversando sobre a banalização da
cultura. Atrás de nós um quadro gigante que faz lembrar a conhecida obra que
evoca uma tão falada guerra civil. Este não é, em tempo algum, uma tentativa de
copiar o original, sou só eu a cuidar pouco da imaginação. Continuam os
cigarros malignos e a conversa sobre a negligência. Do fracasso da atribuição
dos números e da ausente e persistente necessidade de apelidá-la de parente
pobre. Neste governo como noutros. Um deles ri-se porque conheceu um cantor
pimba no ginásio e são, desde algum tempo a esta parte, felizes companheiros de
actividades que dizem respeito ao domínio do exercício em aparelhos. Entretém-se
o mundo com os domingos agitados e abaixo de populares que as televisões
nacionais insistem em emitir. Sempre e em simultâneo. Em nome e defesa do entretenimento
que alavanca o espírito fatigado do comum cidadão. Apela-se à chamada de
acrescentado valor e rir é muito bonito. Entre o cantor que repete largos
minutos a mesma frase com três palavras e a intérprete que aposta forte no playback e na selfie em movimento. No fundo, sustenta-se a cultura do processo
que vive da gravação preparada atempadamente. E, para ressalva do intelecto,
não me limito às cantorias despidas. Já não chega o amor e uma cabana.
Literalmente ou no domínio do fantástico. É pouco. Antes, construírem-se torres
tão altas. Como se fossem caixas com desenhos bonitos. Umas sobre as outras.
Suspensos nesta apneia inopinada e ininterrupta, perde-se o essencial. E esse,
contam-nos as avós, não está à mercê de um tipo que, por nomeação, faz de conta
que cuida dos interesses da cultura de um país. Cuidar não é sinónimo de matar.
Há espaço e tempo. Para os domingos à tarde embalados em cantigas daquele
género e de chamadas curtas. Para as torres de caixas empilhadas. Para atentar
o intelecto. Até, vamos lá ver, que caiam, uma a uma, as caixas amontoadas.
Ganhe-se, logo a seguir, a coragem necessária para juntá-las com coerência,
realidade e competência.
Sem comentários:
Enviar um comentário