Guardo,
algures entre o soalho e o rodapé, pinturas que esperam por um lugar. Qualquer
um. O relógio guarda horas obscenas. Deixei-me ficar pela noite, ao invés, de
esquecer. De fazer por adormecer. Faz-nos assim o tempo com tempo, o ritmo
diferente. A rotina que foge, os hábitos da gente. O relógio não deu sossego,
mas a obscenidade ficou. A minha irmã mais nova gaba-me a blusa que trago. Um
sincero elogio logo cedo. No fim do ano, convidam-se os balanços para a mesa.
Como se a transição fosse imediata, como se mudar fosse simples, brando.
Sugerem-se novos ritmos, outras acções, perspectivas obliquamente diferentes.
Na rua, as pessoas carregam, sem alma, sacos. Tantos sacos. Algumas vezes, fui
um deles. A minha irmã mais nova procura a compra pretendida. Ri-se, e
encontra. Outras vezes, sou um dos outros. Dos que se cansam do consumo, dos
que viram a cara à aventesma e, sem espírito, passeiam na mesma. Nunca fui de
guardar promessas, de escrever novas regras. Prefiro a organização das coisas,
as ideias no lugar certo. Talvez, não desminto, me falte o talento para a
previsão. Fica-me a vontade de pensar, fazer e, só depois, ver. Não sei se me
repito, mas guardo, ali mesmo, sobre o soalho confortável e o rodapé
trabalhado, uma série de pinturas bonitas. De tanto passarem de lá para cá, ali
têm vivido. Precisam de um lugar. Vem aí o novo ano, não sei onde as colocar.
Nisto, ainda me lembro da definição da astronomia. Caso perca a vontade, tenho
outro ano, o mesmo tempo, para as pinturas pendurar. Ou guardar. E, assim, os
meus sossegar.
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