Conheci-os
algures. Numa distância que não tem tempo, contado ou pensado. Valeram-nos as
prosas dilatadas, as janelas de sacada largas, o sol em brasa ou as noites bem
regadas. Não cabe nesta jornada nem um soluço de pausa. Lembro-me dos pés
descalços, das peles douradas, dos cabelos húmidos e dos olhos arregalados. Parece
conto, veste-se de fábula. É antes uma verdade abençoada. Guardo os amores de
perder a alma, as paixões de ferver o sangue, os jeitos amancebados com os
gestos e as desilusões de comer a carne. Parece exagero de puto iludido, mas
não é senão delicadezas de um tempo detido pelas exigências. Éramos um tudo e
um tanto mais. Atirávamos ao ar, à sorte e ao mar. Puritanismos ao longe,
fingíamos adiante do nosso presente. Recusando não experimentar. Era forte, era
pressa. Primeiro testar, depois atestar. Ficou-nos a amizade de todo o tempo. A
simbiose do pensamento e da sinceridade. Os jogos atravessados, os copos
levantados, as noites que não zangavam os ponteiros, a praia com cheiros bons e
mergulhos conversados. Conheci-os algures, em espaços e datas diferentes.
Trago-os desde longe. E aperalto-os com adjectivos, partilhas e sentimentos genuínos.
Efusivos e, admito, um pouco floreados. Mas não minto. Nem tagarelo em vão.
Eles hão-de rir, gargalhar e levar as cabeças atrás, enquanto tomamos uma
bebida da moda ou uma cerveja barata. Mas é certo, hão-de devolver-me na mesma
medida, mesmo que entre dentes. As mensagens partilhadas são autênticas e irreflectidas
homenagens. Conheci-os algures. Numa cronologia sem constrangimentos.
Crescemos. Ainda voltamos às prosas dilatadas, às janelas de sacada largas, ao
sol em brasa ou às noites bem regadas. Com o mesmo entusiasmo, com menos
aflição e outras idades. Roubamo-nos nestes pormenores. E somos tudo e um tanto
mais. Ainda somos tudo, ainda esperamos um pouco mais. O verão a fazer das
suas, na época e no ano inteiro.
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