O
sol olvidou-se. A ameaça é constante. As meninas da recepção, entre o dedilhar
no teclado com as unhas gigantes e o atendimento que as distrai, choram a
ausência do calor, dos dias grandes e da praia a perder de vista. Já ninguém
tolera a questão. Ameaçam-se os céus e os santos. Adiante, que o que lá vai não
é nosso. Ouvi, assim que passei o corredor iluminado pelas vidraças gigantes.
Um senhor e uma senhora, que imagino casados, trocavam a prosa sabedora.
Ficámos à espera. Um pequeno rapaz faz birra e garante que não quer estar ali,
o irmão ainda menor brinca com carrinhos no chão e guarda outros tantos na
mochila. A mãe ameaça abandonar o propósito que os mantém ali e seguir para a
escola. A televisão, silenciada, esboça uma apresentadora animada numa conversa
cujo tema revela toda a maestria do conversador matutino. No telemóvel as redes
estão ligadas e no Instagram já se
vêem biquínis coloridos, praias a enquadrar e sumos de cores berrantes,
aludindo, claro, aos últimos cartuchos da anterior época balnear. No Facebook somos todos qualquer coisa,
conforme o dia apeteça. As notícias frescas, os acontecimentos que fervem e não
deixam sossegar. Recebeu-nos com o sorriso rasgado e a amabilidade de sempre.
Não os sabia por aqui, façam favor, adiantou enquanto nos encaminhava. Havia,
por certo, tempo demais que não nos cruzávamos. Daí, a surpresa. Gabo-lhe, sem
cerimónia, os seus bonitos suspensórios. Louvo a aparente extravagância, que do
termo nada tem. É uma mistura do estilo com a vontade. E, contra a última, nada
há a fazer. Num xadrez preto e branco, imitando o tapete de um jogo. Sobre,
imagine-se, uma camisa na cor do vinho. Em simbiose exacta com a gargalhada
característica. Não se engane o povo, o risco é falecer. Tudo o resto, mais
cedo ou mais tarde, há-de chegar e, se não for moda, ficar. Um aperto de mão e
já garantimos a manhã.
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