23.5.16

Uma manhã qualquer.

O sol olvidou-se. A ameaça é constante. As meninas da recepção, entre o dedilhar no teclado com as unhas gigantes e o atendimento que as distrai, choram a ausência do calor, dos dias grandes e da praia a perder de vista. Já ninguém tolera a questão. Ameaçam-se os céus e os santos. Adiante, que o que lá vai não é nosso. Ouvi, assim que passei o corredor iluminado pelas vidraças gigantes. Um senhor e uma senhora, que imagino casados, trocavam a prosa sabedora. Ficámos à espera. Um pequeno rapaz faz birra e garante que não quer estar ali, o irmão ainda menor brinca com carrinhos no chão e guarda outros tantos na mochila. A mãe ameaça abandonar o propósito que os mantém ali e seguir para a escola. A televisão, silenciada, esboça uma apresentadora animada numa conversa cujo tema revela toda a maestria do conversador matutino. No telemóvel as redes estão ligadas e no Instagram já se vêem biquínis coloridos, praias a enquadrar e sumos de cores berrantes, aludindo, claro, aos últimos cartuchos da anterior época balnear. No Facebook somos todos qualquer coisa, conforme o dia apeteça. As notícias frescas, os acontecimentos que fervem e não deixam sossegar. Recebeu-nos com o sorriso rasgado e a amabilidade de sempre. Não os sabia por aqui, façam favor, adiantou enquanto nos encaminhava. Havia, por certo, tempo demais que não nos cruzávamos. Daí, a surpresa. Gabo-lhe, sem cerimónia, os seus bonitos suspensórios. Louvo a aparente extravagância, que do termo nada tem. É uma mistura do estilo com a vontade. E, contra a última, nada há a fazer. Num xadrez preto e branco, imitando o tapete de um jogo. Sobre, imagine-se, uma camisa na cor do vinho. Em simbiose exacta com a gargalhada característica. Não se engane o povo, o risco é falecer. Tudo o resto, mais cedo ou mais tarde, há-de chegar e, se não for moda, ficar. Um aperto de mão e já garantimos a manhã.

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