2.6.16

Numa espécie de corrida a favor da psique.

Faz tempo, numa saída madrugadora, junto ao rio, numa tentativa desleal de fazer o corpo mexer, fomos conversando. Na companhia de dois, fomos, literalmente, à vontade do vento. Para lá, para lá onde quer que isso seja, até que chegássemos ao ponto certo. Com o corpo fatigado e a mente em liberdade. Não se conheciam, foram por mim apresentados naquele instante. Ele pensa no que já fez, no que alcançou e no que vive. Maldiz da chefe, que o incomoda pelo menor. Antes disso, ele sonhou que chegaria a qualquer estado, próximo do que vem experimentando. É verdade e comprovado. Vai voltar a estudar, fazer uma especialização. Não quer amor, senão uma ou outra relação. Das suas estórias pseudo-amorosas, - a definição com as devidas aspas, - conheço de um todo. Das juras de infidelidade à prova que o sexo por si, não aguenta uniões. Parece desorganizado, mas fica pela aparência. Quem o conhece já lhe entende as linhas e os espaços desnudos. Ela, um pouco mais velha do que nós, mostra maturidade no discurso, até na postura. Mas, ao contrário dele, não se esgota no que aparenta. Cai, aqui e ali, num discurso pesado, de quem vem ganhando pavor aos acontecimentos. Independente, atrevida e recta atitude do corpo. Sonhou, pelo menos desde que a conheço, com o príncipe encantado. E aprecio-lhe a ingenuidade. É tão sincero, que não merece perder a oportunidade. Envolveu-se, tanto quanto vem contando, com tipos mais velhos, em boas posições profissionais, cujas relações não vingaram. Até chegar ao que se apresentou como o tão esperado homem encantando. Juras de paixão intermináveis, trocas de alianças, apresentações à família e amigos. Viveu, começo a acreditar, uma excepção. Teve o que sempre pediu. Contudo, não foi eterno. Primeiro a desavença que ninguém sabe, depois a morte que ninguém conheceu. Não invejo ter razão e contra mim falo, mas os príncipes não saem da imaginação para a vida real, materializando-se no que a outra pessoa procura. No máximo, ficam-se pelo encantamento de aceitar partilhar o quotidiano, o corpo e a mente. Enquanto for verdadeiro, mesmo que redefina o sentido de sempre. O até aqui pode, muito bem, ser um autêntico e saboroso trecho da nossa história. Sem prejuízo para a fantasia do para sempre.

2 comentários:

  1. Nunca acreditei em príncipes encantados. Também porque nunca foi um sonho meu encontrar um.
    Nunca sonhei. Nem com príncipes nem com outra coisa qualquer. Também porque nunca fantasiei uma vida futura.

    Mas acredito, hoje, que podemos conhecer o ‘para sempre’ de uma relação, por mais curta (ou não) que ela seja. Porque esse sempre, para mim, não se enquadra no tempo cronologicamente vivido. Descobre-se, sim, num sentimento impetuosamente compartilhado.

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    1. Boas, Mam'Zelle Moustache!
      Curiosamente, encontro alguém que assume, sem prejuízo para o que possa eventualmente soar, que não fantasiou o futuro. É raro e associo-me a essa postura. Porque me acontece tal e qual dessa forma. Não avento nada que possa resultar da fábula.
      Sendo eu assumidamente um "não-príncipe", quanto mais encantado, também acredito nas relações e no sempre associado às mesmas. Não esquecer, obviamente, que o sempre é tão datado como qualquer outra coisa.
      Haja partilha e sentimento.

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