6.6.16

Vai indo, como a chama quer.

A vida roda, os pombos não perdoam. A cidade está num filme de publicidade. Mais à frente, no jardim de nome bonito, passou um cão pela trela, soltava uns latidos baixos e avançava nuns pequenos saltos. Era branco e castanho, a fita encarnada e as orelhas pregadas ao alto, assumindo um modo de viver muito próprio. Quem o levava, sorria e dizia bom dia. Debaixo do braço, o jornal matinal. Aqui, na esplanada de primavera, enquanto o café espera, é dona da mesa o jornal do dia e a leitura em continuada actualização é a única razão da pausa e do intelecto a questionar a acção. O jornal tem cheiro e mancha as mãos. Tem no negro a palavra escrita, noutro tom as chamadas de atenção, um ou outro pormenor. A notícia contou-me alguém, não é morrer na teoria. O quê, onde, quando. É, sempre que esteja alinhada a razão, a subjectividade porque não és objecto. A trincada verdade de mãos entrelaçadas com as palavras exactas e sem excessos. Enfim, o jornalismo é um crédito que, entre ameaças tentadoras e reflectidas, vai sobrevivendo. O descrédito não assaltou ninguém por acaso, de rompe sem quaisquer justificações. As pessoas, as entidades, as empresas. Todas, num rol de dúvidas perpetradas pelo punho de uns tantos. A nação e a sua soberania ameaçadas em plena claridade. As vozes que se atropelam e a descarga de culpa que parece infringir a inteligência do povo. Esqueçamos, por ora, a vergonha. E lembro-me do jornal diário, sempre em casa. E de como um fato escuro, uma gravata no mesmo tom e uns sapatos limpos combinam com umas meias pintalgadas, qual dislexia efervescente da cor e um discurso de esquerda. Assumidamente defensor da ideologia e, sem despromoção para o que acredita, veementemente simpatizante da vida como ela é. Não confundir ideologia com religião. Não esquecer que a última pode tomar definições díspares, conforme a cabeça que a entende. E, no fim, o que conta é a informação. Tenhamos as mãos tingidas ou não.

Sem comentários:

Enviar um comentário