Caravaggio,
cuja origem do nome, embora escusa de relatos maiores, é um empolgante regresso
às origens. Já lá vão uns anos bons desde que mo apresentaram. Escrevo como
penso. Foi um amigo bom, daqueles meio sacanas e atrevidos, que guardam no
intelecto e no geral, bem mais do que o azougar nas horas vagas. Do que
acautelar os instintos na sede da pele. Que, não vamos retirar o crédito
devido, também é importante. Não será, em tempo algum, de somenos relevância.
Mas voltemos ao artista, ao outro. A Caravaggio e à sua obra. No passado,
quando eu era bastante jovem, miúdo até, contou-me o seu percurso, influência e
irreverência natural. Esse amigo, em abono da verdade, amigo do meu pai, depois
por convivência, amigo da minha mãe e, por inevitabilidade do destino, meu bom
amigo. Eu, um petiz interessado, ele um homem sabedor, conhecedor do mundo e
das voltas que dava. Levava Portugal num bolso, como fazia por repetir e voltava
com o mundo no peito. Arranjei-lhe, na imaginação, um peito que não tinha fim.
A altura e robustez do tipo ajudavam. Paulatinamente, fora revelando-me mais
pormenores, outras obras. Ganhei, se não for exagero, um certo fascínio. Pelo
homem e pelo artista, pelas obras igualmente. A enumeração serve a ambos. Ainda
converso sem fim com este homem grande. Hoje de cabelo grisalho e dono das mais
convincentes histórias. Cruza as pernas e esse pode ser o mote. Fora solteiro
até tarde, casou por amor e ganhou. Só acrescentou. Hoje de corpo ainda vivaço,
não pega num cigarro e dá corda aos ténis. Traz um livro na mala e esse pode
ser o mote. Hoje ainda enche o bolso da nacionalidade que não esquece. Enche o
peito de folgo, faz-se ao mundo e volta cheio. Esse pode ser o mote. Tal como
Caravaggio fora lá atrás.
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