Vem
de longe a minha, mais do que simpatia, admiração pelo genuinamente bom. No mesmo
sentido, noutra e maior escala, vem de um ponto que se despede de memória, o
meu sentimento de reverência para com as pessoas boas. Não acontece ser um
apontamento fugaz, uma voz que deixa aqui, entre a luz do sol e a penumbra da
noite, a tentação de fazer parecer. Fá-lo sempre, seja sob o brilho que
irradia, seja sob o escuro do destino fatalmente taciturno da noite. Dá-se a
sorte no momento em que não fujo à verdade de, sem modéstia, lembrar que
conheço gente boa. Mulheres e homens que vivem por e para se dedicar a causas
tão terrenas quanto necessárias. Sem que belisquem a individualidade e deixem
fugir a vida. Que são fiéis à psique evoluída, ao coração que bate certo e não
se deixa indiferente, à carne que não sucumbe ao medo, e que se cumprem no
caminho inverso da avalancha que a sociedade atesta. Afasto-me, com a devida
vénia, dessa definição. Serei alguém que procura medir a razão e a convicção
interna, bem como, no trato com o outro. Fico comedido perante a dimensão da
bondade alheia. Também de longe, vem a minha amizade com um tipo que não tem
escala. Antes mesmo do tempo em que me apelidava, num tom jocoso, de beto.
Respondi-lhe sempre que sou um fruto do acaso. Rimo-nos tanto, que as
esperanças eram seguir o trecho do que haviam desenhado para nós. Volvidos
estes anos, somos os mesmos. Ele insiste na promoção do bem. Investe no corpo e
na alma. Viaja sem destino para o lugar que lhe guarda o fado e a lucidez. No
nosso último encontro, dois dias antes da viagem que se seguia, fomos para um
lugar de encontros antigos, numa sala reservada para nós, a conversar e a
lembrar sem equívocos. Éramos seis à volta de uma mesa improvisada. Que este é
um tipo que não escolhe o design. De cerveja na mão, de calções e t-shirt, de
sandálias no pé, falou, uma vez mais, com mérito. Hei-de de escrever sobre o
meu amigo que é amigo da vida. Dias depois, havia de receber um e-mail dando
conta da sua saída das redes sociais – na verdade, da única que utilizava e de
forma bastante breve – no mesmo, continuava com um texto que se curva no desejo
de voltar a ouvi-lo. Demos um abraço forte. O tipo bom, que tem prosa bonita e
sandálias de couro e o tipo que agradece a amizade, calça sapatos bonitos e
ténis da moda, dá o braço à perseguição de fazer melhor e que, sem prejuízo,
continua a afirmar que é um beto do acaso.
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