Deixei
cair o meu telemóvel nas escadas de casa. Fez o percurso esperado, degrau a
degrau, até ao soalho final. Deixou mazelas físicas, graves. Das irreparáveis e
capazes de contusão feroz num qualquer coração dotado de sensibilidade. Não foi
o caso, que sou avesso à partilha de sentimentos avulsos, a antítese de um
basbaque a todo o tempo. Brinco, mas não desminto. Isto, dias antes de ser
confrontado com o relato magoado de uma traição. Não a frio, que já me havia
relatado a separação, bem como, a fragilidade e o olhar mais caído, que
denunciaram. Estou longe de ser o que aponta o dedo, o que reclama pela verdade
alheia. Cumpro-me nas minhas convicções, acções e reacções, fugindo à badalada
e profundamente desleal necessidade de lembrar que não estiveste bem. Longe de
defender ou promover a traição, seja em que termos e condições, afasto-me dessa
tentação do facilitismo, da corrosão ainda mais vincada do outro. Prefiro
opinar em última instância, apenas e só, se solicitado. Nessas alturas, recuso
a mentira, mas escolho a prosa alinhavada com as palavras que aparentam ser as
mais confortáveis. O olhar baixo, vindo de alguém tão próximo, a dor de magoar
o outro, não me deixam indiferente. Também por conhecer o outro lado e, sem
cerimónias, lhe atribuir uma genuína forma de estar, uma entrega e um sorriso
que desmontam putativas dúvidas. Se me perguntares, agora e só agora, dir-te-ia
que não me revejo na atitude e que, relembro, neste instante e só neste, não
mimetizaria. Porque quero sempre encontrar a solução ideal. Mas não me iludo,
essa não existe. Quiçá, no momento seguinte, me veja trôpego e ceda à minha
verdade. Nessa alegoria às relações perfeitas, desmancham-se objectos e
objectivos a cada passo. A metáfora não magoa, mas a palavra balança nessa recta
que amedronta o desfecho. O subjectivo é desvalorizado e as marcas da queda são
relevadas. Se te segue a culpa, não deixes que o espírito perca. Nessa
definição das relações, a perfeição arde antes mesmo de existir. Um passo atrás
para garantires dois adiante.
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