Venho,
por estes dias, lembrando a velha Rosa. A tia, tão saudosa. Não tem
justificação. Algo ou alguém serviu de mote, mas não encontro um só norte. Como
se a morte, a ausência e a saudade precisassem de regulamento. A minha mãe
guarda lembranças gratas e sem fim desta mulher. É infindável a necessidade de
acolher que a minha mãe suporta, tratando-se de um familiar ou não. Agarrei-lhe,
por isso, o gosto pelo outro, a dedicação mesmo à distância. Tomei as memórias desta
tia e fi-las minhas. Lembro sempre a tia Rosa. Bonacheirona, o cabelo tão
branco, o rosto sedoso, sem medo das palavras, a silhueta dilatada, de riso
fácil e audível – nesta característica é impossível não encontrar a minha mãe.
Pensar nesta mulher é aludir à natureza, ao campo largo, à vista que não se
quer tacanha, ao amor à vida e à verdade dos dias. Imagino-a, catraia, pela
serra descalça, entre o verde típico, o castanho vivo e os realces da flora.
Dizem-me que fora sempre desordenada, firme, de espírito livre e dona do seu
corpo. Com facilidade, dizem-me que fora sempre um bicho fora de época. Vivia
depois do tempo, para lá do que os olhos dos outros ainda não viam e da
ignorância que não dormia. Não tenho pena desta mulher. Rosa, antes de ser tia
ou mãe, foi vida. Real e sentida. Mulher convicta, desde o pé descalço à psique
desenvolvida. Recordar a nossa gente é fortalecer. Não lhe deixo pena, fico-me
pela saudade, que essa, tal como ela, é eterna.
Se há coisa que não se pode explicar é a saudade...aparece sem avisar.
ResponderEliminarNada,
EliminarÉ isso mesmo. Tratamo-la, não raras vezes, com alguma leviandade. De que, de facto, não é merecedora. É bem maior. E não tem justificação. Sequer opção de escolha. Surge e há que geri-la.