No meu reflexo noto que preferia que os meus óculos
graduados fossem mais arredondados. Penso nisso antes de os pousar sobre a
secretária. O computador portátil expõe o cumprimento entre o negro das
palavras juntas e o branco da página. Os meus óculos pouco importam, bem como,
a sua forma ou feitio. Só perco para eles no momento em que a miopia acena e as
lentes de contacto ficam esquecidas. E lastimo, só posso fazê-lo. O velho
hábito de ouvir uma e só uma música vezes sem conta, em modo de repetição, até
à exaustão, está presente. O perfume que invade o espaço é genuinamente
simpático. A luz que irrompe pela sacada lembra que estamos na corrida. A
primavera não demora. O telemóvel ao lado, entre uma moldura flausina e outra
de madeira rica. O ecrã negro da televisão macérrima é honra na parede. Uns
quadros aqui e acolá. Soam, num rompante, vários toques. SMS, redes sociais e
grupos de conversação. Todos num alvoroço. Um género de excitação. Um frenético
viver tão parecido à época. Carnaval sem fim. Estes, com o ano inteiro de duração.
Alheio propositado que sou à rapsódia do carnaval, chegam, nada furtivas,
tentativas de testar a minha complacência. Fotografias da folia vivida. Este
tipo, garanto, jamais lhe poderíamos adivinhar nestas lides. Imagens que
merecem destaque na galeria dos donos da pândega, seguramente. Rio-me e não é
forçado. Este tipo é a coerência anual esventrada por estes dias. Amanhã há
mais, legenda ele. Sugiro-lhe sorte grande e outros agaiatados desejos. Volto a
colocar os meus óculos graduados. É impossível escamotear, preferia que fossem
mais redondos.
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