Estou
sentado numa sala toda bonita, com vasos bem revestidos. Flores largas,
coloridas, cheias de pormenores. Num andar que testa a minha capacidade de
gestão de alturas, de um delíquio que tenta assomar-se. Nas minhas costas uma
janela gigante, vestida de vidro, limitada por um material que espero que ofereça
segurança. Numa furtiva troca de olhar com o exterior, percebo que sobre a
placa de um dos prédios da frente, habita um simpático jardim. Lembrou-me uma
cidade que guardou, em tempos, uma das minhas pessoas. Das que os laços não são
de sangue, são de amor e verdade. De volta à sala, as cadeiras, simpaticamente
trajadas com um azul forte. Confortáveis, como que a ensinar a demora. Senta-se
ao meu lado uma mulher. Havíamo-nos cruzado na entrada, no piso zero, e
partilhámos o elevador. Repete-me os bons dias, e devolvo com simpatia. Nesta
área prefiro o repetido, ao invés do interdito. No silêncio seguinte, respondi
ao seu sorriso com outro. Perguntou-me, no mesmo soluço – como que ganhando
terreno sobre a possibilidade de um novo hiato de silêncio se sobrepor – se estava
nervoso. Olhei-lhe – e devo ter arqueado a sobrancelha, no meu mais corriqueiro
ar de surpresa – e devolvi prosa resumida. Disse-lhe que não. Não havia razão.
O que me trouxe aqui é uma simples reunião. Agarrou a mala preta, sobre o colo,
e garantiu que também não estava. Procurava ser ela, sem outras diligências. Percebi,
no decorrer no discurso, que estava à espera para entrar para uma entrevista.
Mexia no cabelo, olhava o ambiente à volta, segurava a mala com fé. Andou nisto
até que a chamassem. Antes de entrar, junto à porta, dirigiu-me o olhar,
agradeceu-me com um obrigada profundo e desejou-me o melhor dos dias. Tão sui generis quanto genuíno, pareceu-me.
Levantei a mão direita, acenei e procurei ser o que esperava naquele momento.
Boa sorte, faça da sua melhor maneira – avancei. Bateu a porta. Continuei na
sala, de costas voltadas para a janela cuja altura é insana. Dei por mim a rir
sozinho. Os medos são fazedores do receio. Contudo, valem tanto quanto o que
lhes colocarmos nas mãos. Valem tudo até revolvermos a mecânica, avançarmos no
vazio e garantirmos as faculdades do raciocínio. Paro por aqui, não sou orador
da demagogia.
Sem comentários:
Enviar um comentário