As
verduras frescas sobre a bancada. O verde reluzente. Os legumes bem cuidados,
listados, as cores certas e os tamanhos irregulares. Os frutos em harmonia numa
cama dividida, sadios e numa troca, quase lasciva, de olhar. Têm marcas
visíveis, mas é a qualidade e a vontade de comer com certezas. Os orégãos dependurados,
as folhas de louro na mesma carreira. Os limões vivos amancebados com as limas
frescas. O alecrim apresenta-se em arranjos aperaltados. As malaguetas
fervilham em ramos inventados. As batatas têm espaço e as alfaces são amigas das
couves. As aromáticas fazem justiça ao nome. A bancada toda arranjada, sem prosápia
nem falta de maneiras. De lá, ouve-se uma receita de arroz de safio e uma
mezinha para a tosse, e de cá o pedido para que deixe ficar o saco carregado. Apresenta-se
ao serviço, apresso-me a dar-lhe honras de dona da banca, uma senhora de alguma
idade. Um pouco curva, de cabelos esbranquiçados, macérrima, de chapéu a cobrir
a cabeça. Uma bata de xadrez, com apliques de renda branca, a defender a roupa
de sair. Apetece-me dar-lhe os bons dias. E assim fiz. Devolveu-me um sabido e
agradecido bom dia. Com o ar de quem o faz há tantos anos. Logo depois, quase
sem cessar, serviu-me um sorriso gigante. Simpática e dinâmica pergunta o que
quer o freguês. Penitencio-me no vazio dos pensamentos, pois, queria no
imediato, prosa de visitante. Fotografar-lhe se não fosse ousadia. Ouvi-la
conversar. Gabar-lhe os produtos frescos. Sugeriu-me o mel feito pelo senhor
António. De resto, deixou-me à sorte das minhas necessidades. Perguntei-lhe o
nome e contou-me que é Maria. Mariazinha para os antigos. E foi assim que, daí
em diante, me pediu que a tratasse. Deixou-me fotografar o negócio montado, mas
sem que ela se assomasse à objectiva. Respeitei. Trouxe uma fotografia vestida
com a moldura da dona Mariazinha. A imagem na cabeça ao longo da manhã. E um
frasco do mel do senhor António – imagino-o de bigode, não me sei entender.
Logo eu, fraco fã de mel ao natural. Hei-de lá voltar. Nem que seja para lhe
contar.
Sem comentários:
Enviar um comentário