5.4.17

Portugal numa sala especial.

Prometeram-me, há tempos, a ida a uma casa de fados. Que ainda não conheço, mas que, dizem-me, tem a música nacional por todos os lados. Tão travessa, tão sem pressa. Com guitarras afinadas, vozes nada pensadas. Cordas em concordância, mãos cheias de elegância. Ensaios de uma tarde inteira ou de uma manhã bem dormida. Poemas conceituados, outros à hora arranjados. Mesas rústicas e tolhas trabalhadas. Vinho tinto num jarro de barro, os arranjos florais numa jarra ao centro. O rapaz das flores chega num carro. Senhores com a música à flor da pele, senhoras com as gargantas afinadas. Fatos simples e repetidos. Gravatas ora ausentes, ora de tecidos vividos. Vestidos compridos. Xailes negros sobre as costas e outros coloridos. Gente com sabedoria, malta que começa agora à luta pela alegria. As mãos voltadas para o céu cerrado, os olhos num jeito fechado. As paredes vestidas de lembretes bonitos e ricos. A certeza de que não há lugar a esquecimentos. O escuro é companhia de toda a hora, as velas não perdem com a demora. Os clientes pela alma envolvidos oferecem os silêncios devidos. Prometeram-me, há tempo demais, a ida a esta casa de fado. Já a vejo assim, sequer a pisei. Espero com ânsias a semana que vem. Hei-de ouvir música boa e ver-me embrulhado num ambiente que não se repete. Silêncio, vem lá fado. E eu gosto tanto.

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