11.4.17

Combate corpo a corpo.

Chamar-lhe pelo nome próprio ou pelo último, muda tudo. Um amigo de longa data, desde os primórdios das descobertas de cada um, faz-se, ainda hoje, amigo próximo. Apura-se a amizade nas pausas do desassossego dos dias. Corre-nos algures uma massa que é similar. Toleramos o avesso do excedente. Partilhamos noites bem regadas, tardes bem passadas. Manhãs escassas, mas bem aproveitadas. Levamos neste trajecto as nossas vidas cruzadas. Ele, que o trato sempre pelo último nome é um tipo inteligente. Mas carece de menos emoção na hora de experimentar o sexo, de viver o sexo. Sequer chego à paixão, amor ou paixoneta. Tampouco às relações com duração superior a oito horas. É o tipo que, há alguns anos, decidiu inscrever-se num ginásio para, segundo o próprio, chegar-se à linha da frente do acontecimento físico-emocional. Numa frágil certeza de que o cupido andaria mais próximo por aqueles lados. Com ele, fui eu e outros tantos. Era a necessidade de expressar no corpo as entrelinhas do intelecto. Soa estranho, assumo, mas é risada desde lá. Escusado será dizer que dali não saíram senão corpos mais ajeitados e a psique mais aliviada. Hoje continua o mesmo. Visita frequente do ginásio. Bambo nas certezas das relações. Não investe porque julga o fim antes de tudo começar. Não oferece tempo porque teme o depois antes de viver o agora. Procura ficar nas noites rápidas, ao invés dos dias demorados. É um amigo de quem gosto bastante. A inteligência vive numa luta constante com os sentimentos. Embrulhados como num intolerante às águas revoltas. Já lho disse e ele ri-se. Conversamos sobre tanto que, às vezes, este parece um pormenor irrelevante. Mas não é. Assistir à dor que este modo de viver lhe infringe é a prova. Espero que a M.C., amor de perdição dos últimos tempos, consiga navegar neste turbilhão. Embora nessa viagem, meu bom amigo. Fico a assistir e à espera do brinde.

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