21.2.18

Ininterrupção de instantes.

Venho chegando, com a noite assumida, enquanto oiço Gorillaz. Esta canção tem história, prosa demorada, para outros temperos. Viro à esquerda, para encontrar o beco. Casas grandes, com jardins bonitos. Sei-os de cor, tantas as visitas. Junto ao portão escancarado, depois de estacionar o seu Mini, alguém acena, com vontade e precisão, temendo não ser vista. Devolvo, com sorriso e tudo. Procuro estacionar, mas não fico satisfeito. Saio do carro contrariado. Conjuro no desassossego mental, léxico que tem falta de maturação. Trago um presente, um vinho pomposo. Mãos ocupadas, eu na corda. Chego-me à simpatia do aceno, trocámos dois beijos – ainda sou pela dupla do verbo. E pergunta pelo que me traz ali. Afazeres, ensaiei responder. Fiz-me melhor rapaz, cumpri a verdade e procurei pela família. Todos bem, como se quer. O irmão volta em breve. Amigo de outras paragens. Agora tenho de ir, que já me faço em cima da hora. Fracos passos e toco na campainha. Vejo a luz acender, logo se faz ouvir o cão da casa. Recebe-me antes de todos. O entusiasmo de sempre. Não guardo palavras para a empatia que fixámos, eu e o pequeno animal. Pequeno com todas as comas. Passadas as brincadeiras iniciais, entrego o empolado vinho. Lembrando, entre risadas, outros bem fajutos que outrora bebericámos. Feitos todos os cumprimentos, volta a certeza de que estou sempre bem por aqui. Falta alguém, mas não resta assunto. Fica para depois. Enquanto me leva o casacão, pisca-me o olho. Devo ter esboçado uma fácies atabalhoada. Pior, só a barba demorada. Negligentemente aparada. O meu pai já nem aventa questionar. Ganho, por estar longe da vista. Servem-me a primeira taça. Grande noite se principia.

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