14.7.14

Um ermo social.

Não pudemos, em tempo algum, pintar de cores variadas um acontecimento de rasgão negro. Quando a tela, teimosa, brilha entre o negro, os cinzas e os brancos. Não pudemos recuar, evitar. Ostenta a beleza da pausa das tonalidades que se opõem ao branco e preto. Apenas, se ficarmos na mortal vista desarmada. Pegar num corpo bambo e gritar-lhe por força é uma alogia. Chegar perto de um corpo que desenha no vazio as suas curvas, enquanto se desafia num pé de dança isolado, ao som de um músico de rua, é negar-lhe liberdade. Exigir que, seja quem for, troque o conforto do calçado pela experiência de pisar o chão, num toque de pé com o asfalto, é um snobismo claro, que não adultera a arrogância pela qual é suportado. Recusar a franqueza com que os outros conduzem as suas vidas é medonho. É a prova da incoerência social. Sujeito depravado aquele que ocupa os seus dias a tornar podre a existência do outro. Jamais, assistindo ao desapropriamento de liberdade, me deixarei sossegado. Seja qual for a verdade.

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