13.5.15

Este também é um mundo de mulheres.

As redes sociais são um atrevimento. Rasgam-se palavras amargas sobre o voyeurismo na televisão, mas há sempre quem nunca desista de bisbilhotar online o que foi feito desta ou daquele. Democratizou-se a o interesse pelo alheio. Tanto, que já quase ninguém se lembra do passado. A sério, risca essa merda toda e nunca mais voltes a fazê-lo. Terminou assim. A miúda que só precisava de umas botas amarelas, umas meias rasgadas,  mas sempre negras e um cabelo muito comprido e super liso. Andava sempre com uma mala XXL e nunca parecia contente. Nunca lhe vi um sorriso, nunca lhe ouvi a voz antes desta frase. Pintava os lábios grossos de encarnado e tinha os olhos sempre escuros. Nunca tinha companhia e arrastava-se pelos corredores. Só me lembro disto. Antes, claro, de ouvi-la pela primeira vez. Depois de vê-la indignada com aquela outra miúda, voltei a encontrá-la sempre da mesma forma, algures num ponto daquele corredor largo. Vim, mais tarde, a saber que era uma aluna de excelência. Parte dos professores tinha uma simpatia extrema por ela. Na minha opinião, com todo o mérito. Seria um ano mais velha do que eu. Por isso, desde que terminou os estudos, nunca mais a vi. Soube esta semana, através de uns amigos, que é uma jovem mulher igualmente misteriosa. Continua bonita, de lábios encarnados. Agora é profissional da área da justiça e não lhe faltam elogios. Sequer conversamos uma vez, mas fiquei contente por saber dela e do percurso profissional. A outra miúda, com quem ouvi-a gritar, parece que foi um amor de juventude. É uma fortuna ter o mundo em andamento e sangue a fluir a favor do caminho certo.

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