4.11.14

Vale uma centena.

Era ainda petiz quando ouvi esta conversa. É a certeza de que a cidade te recebe, mas a criação nunca esquece. O possante carro ficou logo ali. Anda à roda num lugarejo de vizinhas curiosas, de jardim à boca da singela capela. Murmúrios de mural em frente ao café das novidades, saudades que atiçam as memórias de amores, relações, traições e tradições. É aldeola de meninas que ainda vestem saias rodadas, que não sustentam da boca para dentro a malvada necessidade de saber e conhecer quem passa. É calçada molhada da humidade da noite fria, é a fonte que seca mais vezes do que os nervos têm ganas de a procurar de garrafão nas mãos. Mas não desiste de pingar. Enquanto se matam lembranças da porta da Maria Etelvina, da mercearia do José Joaquim, da garagem do bonito carro do Cesário. Do coreto inventado nas costas do jardim. Da cantoria da Carmelita. Ora chove, ora faz sol. O vento vai dando tréguas. A idade pesa tanto quanto o estojo do caminho passado. Neste lugarejo que provoca as estruturas de uma cabeça que ainda não esqueceu. Neste cenário, o homem que anda na viva roda, leva um lenço de bolso. Dele, do homem, hei-de voltar a escrever. Dele, do lenço de bolso, hei-de me lembrar de escrever, sobre a estória que conheço e a importância que lhe ofereço.

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