23.4.15

A causa do fundamento.

Saiu-lhe um palavrão sem pensar. O modo de viver que decorre do nascimento até ao ponto final é digno daquela palavra. Qualquer dia ensandeço, viro costas e vou-me embora, compro uma quinta que me faça perder o horizonte. Deixo-me ficar lá, hei-de gozar o triplo. Dizia ele e não deixa de ser verdade. As opções existem, falta a coragem, a insensatez e o desapego aos nossos. Lembrei-me desta conversa enquanto ouvia música. Um som dos anos oitenta, se não me engano, de mil novecentos e oitenta e dois. Está sol lá fora, falam-se dos altos níveis dos raios UV, antecipando cuidados. Nas ruas há gente a viver as temperaturas mais secas. Há chinelos no pé, t-shirt no lombo, calções sem condizer. Vestidos fluídos às cores. Flores e riscas por todo o lado. Chapéus com fitas à volta que ganham nomes tão técnicos que nos fazem parecer descerebrados. Também importa, mas não interessa nada. Assusta-me a banalidade com que se abordam certos temas. A facilidade em tomar a vida do outro pelo nosso olhar. O nosso prisma, as nossas vivências vão, inevitavelmente, talhar as nossas opiniões. Ficam inquinadas e, para sermos justos, não traz benefícios. Como a exposição, tempo sem conta, ao sol. Sem protecção e sem juízo. A última é uma característica deste homem, do mesmo que ameaça mudar de vida. É mais velho que eu, habituei-me a escutar-lhe as estórias e a sabedoria. Talvez, seja essa a procura de todos os dias. Uma das maiores, se quisermos. Pior do que não saber onde estamos, é não saber quem somos. Não acredita em Deus, mas sabe que quando lhe chegar perto, será, por demais, bem recebido.

2 comentários:

  1. Que bem que me sabia poder sair, agora mesmo, de vestido fluído às flores. Mas a chuva não me deixa. :)

    Saber quem somos e vivermos a nossa vida em função do que é o melhor para nós - do que nos faz sentir efectivamente vivos - e não para impressionar terceiros, eis um excelente ponto de partida para aproveitar a nossa estadia neste mundo.

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    1. Mam'Zelle Moustache,
      Desconfio que foi uma partida meteorológica. Ou insensatez estrangeira. Que chegam uns raios de sol e logo se respira por cada pedaço de pele. Logo depois, voltou a chuva a o tempo cinzento.
      Fundamentalmente é isso. Estou totalmente de acordo. A tal fidelidade é procurar viver em sintonia com o que nos faz bem. Resumir a existência à pressão alheia, à exibição de circunstância, é embriagar para não mais lembrar. :)

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