27.5.15

Peça de duas rodas à janela.

Não me perguntem onde tenho a cabeça. Que tenho-a em muitos lugares. E, para não mentir, teria de recorrer a citações de um livro de um dos grandes, dos autores nacionais que escreveram com pedaços de coisas quebradas. E dividia, sem defeito, a autoria. “Livro do Desassossego”. Não me lembro da última vez em que peguei numa bicicleta. Literalmente. Admiro-as e quero aquela. Idealizei-a primeiro, depois fui encontrando bocados dessa ideia numa ou noutra com que me fui cruzando. O todo está perfeitamente construído na faculdade do meu pensamento. Vejo-as em revistas bonitas, em quadros de arte maior, em cartazes que me fazem parar e em fotografias que me fazem sossegar. Perco-me, se não for um exagero da definição, em lugares online que mostram a mesma bicicleta em lugares diferentes, correndo o mundo. Outras, em que o mesmo sítio vê passarem as mais diversas e desconexas. Um certo dia, algures na adolescência acabada de começar, num passeio a três, eu e mais dois amigos, num terreno tão maninho, caí sem definição. Uma descida mal calculada. O resto já se sabe. Mas não foi nesse tempo que desisti. Hoje repito instantes. Paro, se achar apropriado, para fotografar uma bicicleta. E espero, sem pressa, pelo dia em que ela vai chegar. A sala da minha casa pode ser o horizonte. E, sem prejuízo, deixá-la lá ficar.

2 comentários:

  1. Quando era pequena, adorava andar de bicicleta. Ainda gosto, mas já não recorro a esse pedalar para me sentir livre, como fazia quando era pequena. Lembraste-me desses momentos em que fugia de casa dos meus avós para andar de bicicleta perto do mar, com o sol a bater-me na cara. E, numa altura em que sinto falta desses momentos, essa lembrança fez-me bem. :)

    Um beijo*

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    1. Raquel,
      Sempre tão conexa nos pensamentos e na desconstrução do sensato. E isso, deixa-me dizer-te, agrada-me bastante. Admiro profundamente. Parece incoerente, mas é perfeitamente harmonioso. Vivê-lo será ainda mais prazeroso.
      Obrigado pela partilha. Os avós serão sempre uma espécie à parte. Não têm espaço na tal gaiola, tal a dimensão. E ler-te sobre a liberdade que procuravas no pedalar junto ao mar, com o ar a atiçar-te, lembra-me tantas coisas.
      Lembrar é fundamental e nunca é demais :)
      Um beijo.

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