9.5.17

Palanque matinal.

Ora um beijo, ora um aperto de mão. Agora outro beijo, mais dois ou três. Ainda um aperto de mão a consolidar a lista. Não são esquecidos os bons dias matinais e habituais, bem como, os acenos de mão e os sorrisos simpáticos. Assim corre a manhã. Que se fez longa. Tão madrugadora que se vingou na dor de cabeça que vem pesando. Não a censuro. Retaliação de gente mal dormida. Antes das oito da manhã já o seu carro datado, tão vistoso, procurava lugar. Vem de barba rija e cuidada. O cabelo a combinar. Vem a praguejar, de folhas na mão, cansado do arranque do dia. Rir é a resposta. Vamos embora. Não fazemos esperar. Há gente a correr no sentido inverso. Levam calções ou calças curtas. Casacos largos sobre o corpo ou presos à cintura. Ténis cheios de cor e outros que não servem as modas. Os ouvidos ligados ao telemóvel. Os olhos no infinito. O foco no limite. Uma senhora passeia o cão pequenino, lá à frente vem um rapaz com um quatro patas bem matulão. Numa varanda bem alta alguém gesticula como se o púlpito do mundo residisse ali. E tem graça. As flores estão arranjadas, com bom ar. Vem lá outro cão, desta vez, à sua sorte. Nós seguimos em passo combinado, trocando ideias e proseando sobre muito e acerca de coisa nenhuma, que somos rapazes para não poupar o léxico. Chegados, ele roça o ofegante e volta ao praguejo. Lembrei-lhe que já perdemos a conta aos dias que passaram desde a última actividade física que fosse além de uns passos. Entre gargalhadas, inventámos que vamos voltar esta semana. Assim se enganam os tolos. Tal como o saber, as desculpas mundanas não ocupam lugar. É tão certo como a barriguinha quase saliente que trazes contigo, meu bom amigo. Somos recebidos com extrema simpatia e, imagine-se, outro par de beijos.

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