Uma
história curta. Uma estória que tem tanto interesse como todas as outras. Uma
conversa no meio do Alentejo. Uma casa, gente boa. Tirei uma fotografia ao sol
a ameaçar pôr-se, depois de uma tarde entre conversas animadas, risadas leves,
banhos na piscina e o gozo de deixar-me ficar ao sol. À frente dele, deste sol
que deixa uma luz do caraças, uma casa comprida, típica como o desenho da
região. Adiei a vontade de mostrá-la ao mundo. Perdeu o Instagram. Ganhámos nós, perfeitos convivas em fim-de-semana, que o
vimos sem filtros. Na varanda larga, estava eu de costas para a casa, com as
janelas escancaradas, porque o calor não perdoou. Nisto, oiço alguém
perguntar-me o que ainda fazia ali. Já não procurava o melhor lugar para
apanhar rede, pois por vencido me dei. Estou a pensar, foi a resposta. Não
estava nada, que não me ocupava naquele silêncio, senão a olhar. A ver a
paisagem a acontecer. Um ou outro carro, raras vezes, lá ao fundo a passar a
caminho da praia. Levantei-me e juntei-me à amiga que estava de pé. Sem que lhe
perguntasse nada, falou do casamento. Do seu casamento. Teremos casório lá
adiante. Emoção na cara. Os olhos brilhantes, um sorriso nos lábios. Deve ser a
cara da expectativa. Com esta cara, falava-me dos preparativos, do vestido, do
horário da cerimónia. A avó, continuou, chorou quando a viu pela primeira vez
de branco. Só percebo o casamento, se for assim, emotivamente vivido. Quando os
protagonistas acreditam no amor. E deixam-se acreditar no amor que nunca acaba.
Não desistem, mesmo que não o mostrem aos outros. Mesmo que vozes soem mais
alto alvitrando putativas dúvidas. Vi-a a passar as mãos pelos olhos, para que
não caísse qualquer lágrima. Ouvi-a num relato quase ininterrupto. E acreditei.
Naquele amor, naquele casal. Mesmo que ainda não tenha em mim o sentido lato da
definição irrevogável do amor que quer casamento, mesmo que ainda procure
provas. O que vem a seguir, será sempre melhor. O noivo e outra amiga chegam à
varanda, ela fotografa-me e temos verão numa fotografia. Que seja um amor
gatuno, meus bons amigos, é o que me permito dizer-vos. Que vos tenha lesado
por muito e bom tempo.
... o amor existe , eu acredito nisso ... mas só é para a vida se for trabalhado a dois ... todos os dias ... todos os dias sem exaustão :)
ResponderEliminarPingo de Mel,
EliminarExcelente resumo. Também acredito no amor, na sua existência. Tenho reticências no que à duração diz respeito. Ou, se quisermos, na eternidade do amor.
Acredito, tal como dizes, nesse amor, nessa partilha e nessa necessidade inesgotável de trabalhar a relação. Sem que nenhuma das partes se demita. Mesmo que chegue ao fim, um amor vivido em pleno por ambas das partes, terá sido sempre um amor melhor. Digo eu :)