29.6.15

Amor que substitui de vez o que era feito por provisão.

Uma história curta. Uma estória que tem tanto interesse como todas as outras. Uma conversa no meio do Alentejo. Uma casa, gente boa. Tirei uma fotografia ao sol a ameaçar pôr-se, depois de uma tarde entre conversas animadas, risadas leves, banhos na piscina e o gozo de deixar-me ficar ao sol. À frente dele, deste sol que deixa uma luz do caraças, uma casa comprida, típica como o desenho da região. Adiei a vontade de mostrá-la ao mundo. Perdeu o Instagram. Ganhámos nós, perfeitos convivas em fim-de-semana, que o vimos sem filtros. Na varanda larga, estava eu de costas para a casa, com as janelas escancaradas, porque o calor não perdoou. Nisto, oiço alguém perguntar-me o que ainda fazia ali. Já não procurava o melhor lugar para apanhar rede, pois por vencido me dei. Estou a pensar, foi a resposta. Não estava nada, que não me ocupava naquele silêncio, senão a olhar. A ver a paisagem a acontecer. Um ou outro carro, raras vezes, lá ao fundo a passar a caminho da praia. Levantei-me e juntei-me à amiga que estava de pé. Sem que lhe perguntasse nada, falou do casamento. Do seu casamento. Teremos casório lá adiante. Emoção na cara. Os olhos brilhantes, um sorriso nos lábios. Deve ser a cara da expectativa. Com esta cara, falava-me dos preparativos, do vestido, do horário da cerimónia. A avó, continuou, chorou quando a viu pela primeira vez de branco. Só percebo o casamento, se for assim, emotivamente vivido. Quando os protagonistas acreditam no amor. E deixam-se acreditar no amor que nunca acaba. Não desistem, mesmo que não o mostrem aos outros. Mesmo que vozes soem mais alto alvitrando putativas dúvidas. Vi-a a passar as mãos pelos olhos, para que não caísse qualquer lágrima. Ouvi-a num relato quase ininterrupto. E acreditei. Naquele amor, naquele casal. Mesmo que ainda não tenha em mim o sentido lato da definição irrevogável do amor que quer casamento, mesmo que ainda procure provas. O que vem a seguir, será sempre melhor. O noivo e outra amiga chegam à varanda, ela fotografa-me e temos verão numa fotografia. Que seja um amor gatuno, meus bons amigos, é o que me permito dizer-vos. Que vos tenha lesado por muito e bom tempo.

2 comentários:

  1. ... o amor existe , eu acredito nisso ... mas só é para a vida se for trabalhado a dois ... todos os dias ... todos os dias sem exaustão :)

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    1. Pingo de Mel,
      Excelente resumo. Também acredito no amor, na sua existência. Tenho reticências no que à duração diz respeito. Ou, se quisermos, na eternidade do amor.
      Acredito, tal como dizes, nesse amor, nessa partilha e nessa necessidade inesgotável de trabalhar a relação. Sem que nenhuma das partes se demita. Mesmo que chegue ao fim, um amor vivido em pleno por ambas das partes, terá sido sempre um amor melhor. Digo eu :)

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