Nota-se
o movimento nas ruas. Diferente, apenas. Nesta rua, repara, está uma loja com
nome de senhor bom. Daqueles que lêem livros antigos, contam estórias sem fim, vestem
camisas claras e pousam as mãos num balcão de madeira forte. Dos que nos fazem
lembrar outros tempos. Lembrar ou, se não te falha a memória, conhecer. Dão-nos
cultura que não vivemos, vidas que não conhecemos, opções que não pensamos.
Daqueles velhos homens que vivem o trabalho. Que fazem relatos majestosos, que
nos fazem pensar. Conta sobre aquele acontecimento que só conhecemos nos
livros, dos relatos e da história que vai ficando. Tantas vezes, os homens encarregam-se
de adulterar a efeméride para, obviamente, alcançarem altos benefícios ou
disfarçarem a realidade factual que lhes é inconveniente. Outra visão.
Abre-nos, no fundo, o espectro da discussão. Tudo isto, só pelo nome que vive
na cabeceira daquela loja. Depois de entrar, por força da curiosidade, temos
uma visão do que já passou. Tal e qual como falávamos antes. A vida acontece ao
contrário. Ficámos a saber que, embora, este velho senhor tenha o mesmo nome
que está à entrada, não foi ele quem deu nome à casa. É herança de um
ascendente que lhe passou o bicho. O nome e o espaço. Continua na lida diária,
de pano laranja pelas estantes a passar. Foi bom conhecê-lo. Continuação de boas
conversas e, se lhe deixarem, de vendas suficientes. A ver vamos, juventude, a
ver vamos. Rematou assim o senhor da loja que tem nome de homem bom. Até
qualquer dia, então. Sorrimos e voltámos à rua. Repara, esta rua tem nome de
senhora que fica para tia e veste o papel com maestria. Rimos juntos. Isso é a
tua memória a falar alto. Lembras-te da tia-avó dos contos? É ela.
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