Tenho
vários amigos artistas. Já pensei nisto, já falei sobre isto. Fazem coisas,
muitas e bem feitas. Afirmo-o com a ressalva do estereótipo que dá as mãos à
arte. Eu gosto do muito que venho vendo. São todos muito diferentes. Mas
encontro-lhes semelhanças na estrutura. Mulheres e homens de ideias sociais
muito próximas, fazedores de arte mais distantes. Respiram criatividade, falam
com originalidade e sustentam-se no compasso da criação. Não é forçado, é uma
acção natural, uma reacção visceral. Louvo-lhes o dom, uma e outra vez. Chegou
e deixou cair sobre a mesa uma revista. Disse-me, logo a seguir, que era a
revista de que me havia falado. Trouxe-ma para que, entre os muitos artigos de
interesse, me deixe levar por um conjunto de fotografias que são o espelho do
mundo. Um mundo honestamente desonesto. Um retrato de outro continente. Já lá
esteve e, garante-me, é impressionante. A qualidade das fotografias é
indiscutível, mas não se esgota na técnica apurada, na luz certa, na objectiva
concreta. Morre em cada uma, a esperança. Porque não é ver, é ver e não restar
um miserável pingo de dúvida de que o julgamento se faz aos solavancos e não
tem beira. Ironizando, porque nos falta discurso, já dizia uma velha amiga,
quando ainda éramos uns putos entre aulas e conversas de corredor, que
lamentava não se chamar Esperança. Todas as vezes, alguém lhe perguntava
porquê. Ela justificava, imaculadamente: Porque a Esperança é sempre a última a
morrer. É tão verdade, que me rio enquanto escrevo. Tal como nesses idos anos.
Havia sempre uma gargalhada como ponto final. Agora, depois de folhear esta
revista um punhado de vezes, faz sentido. Que aos protagonistas desta realidade
nunca lhes falte a esperança. Mesmo que morram antes dela. É o outro lado. O
lado da consciencialização.
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