24.8.15

Confissão inopinada no regresso a casa.

Voltei ao tempo das pausas obrigatórias e da rotina. Como aquele velho homem que, a cada dia da semana, se obriga a passar a rua inteira, de chapéu na cabeça, a barba branca e rija, os olhos meio fechados, debaixo do sol quente ou da chuva em pranto. Obriga-se a fazê-lo pela primeira página. E pelas outras. Pela capa e pelas letras gordas. Esmiúça com a convicção de que só assim, fica liquidada a viagem. Voltei a ouvir uma canção que tem tantos anos que, assumidamente, já me havia esquecido dela e do interprete. Depois, quase patologicamente, vem sendo a minha companhia. Agora, neste instante também. Foi um amigo antigo, daqueles que têm sempre boas memórias e oferecerem-nas com convictos lembretes. De lá longe – não tão longe como as palavras fazem parecer – chega uma mensagem. Ditava assim: Cheguei, estou por cá. Faz-te à vida. Arranja espaço. Fico até tal dia. Sucinto, como é hábito. No final da mesma mensagem, ao invés de uma assinatura desnecessária ou de uma saudação pouco proveitosa – que pode incluir golos putativos, desavenças pseudo-políticas, corpos desnudados desta ou daquela - deixa-me um link. A tal canção. Acho que umas décadas valentes vibraram ao som disto. Connosco – eu e ela de então - aconteceu mais tarde. Um dia levo-te a dançar. Tenho a certeza que te disse isso. Tampouco, sem precisar que mo dissesses nos dias seguintes. Tal e qual, como vieste a fazer. Perguntaram-me, algures neste verão tão vivido, por ti. Depois, claro, de lhes lembrar esta canção. Somos amigos. Mesmo que, por inquietação da juventude desmedida e da precocidade do pensamento e dos actos, me tenha esquecido dessa dança. E de, no dia seguinte, deitada ao meu lado na cama improvisada, ma tenhas agradecido. A rua de então, à luz da razão, era um valente esticão.

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