Rabiscar
a parede como se fosse uma tela. Permitir carburar as ideias, burilar sobre o
branco limpo, o que se lhe assoma no intelecto. Desde que me lembro, guarda-a
para o efeito. Ora desenha com o traço fincado, ora risca com o desmérito que
promove. Ambas resultam numa obra digna daquela exposição. O talento jorra-lhe
das mãos, dedica-se nas horas desocupadas e São Francisco, não tão longe, é a
razão. Coloca música para guardar o ambiente, boa música no caso. Não é de hoje
que o talento é ocasião para a reunião, que já não esqueço as horas ininterruptas
que lhe oferecemos. Logo jovens adultos, numa inconstante procura e numa
vontade com constância. Espargimos sobre a época todas as nossas capacidades. Com
todas as certezas, despendemos largas horas às tertúlias fecundas e às sem ornatos
também. À viola do mestre e ao olho atrevido para a fotografia. À prosa
escorreita e à poesia que roborizava e deslustrava. Às cartas e aos jogos que
instigavam a fuga à denúncia do olhar. Um armazém de pendulares memórias. Ali,
verticais, à espera de quem passa. Porque há algum tempo que não coloco a vista
em cima, mandou-me, ontem ao final da tarde, imagens de mais um pormenor.
Rabiscar a parede como se fosse uma tela é aumentar o préstimo do que nos
rodeia. É aconselhar a percepção intelectual. E deles, retirar o melhor.
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