29.12.14

Desculpem a minha pantomima invertida.

Em tempo algum, tu sabes bem, existirão coisas sumárias, sem braços acesos. É um desassossego entre os dedos, que vais conhecendo sorrindo. As mãos cheiram a café. Tal e qual, assim mesmo. Como se, por desaire da sanidade, tivesse feito de uma taça um poço com fundo. Tu sabes bem. Um deslavado líquido enchendo. As mãos, sempre que as levava ao nariz, cheiravam a café. E repetia. Qual ironia. E voltava. A conversa, a descrição do cheiro e o levar das mãos ao nariz. Numa tentativa repetida de, jamais, se esquecer do cheiro. Como se aquela taça fosse o todo. Mergulhava as mãos. Sentia a temperatura morna e e brincava. E voltavam as palavras. O cheiro a café, em nada mudo. Lembro-me deste impensável e rebuscado momento depois de ouvir contar o amor. Como quando uma pessoa se divide e espera a outro. Sente, amiúde, a pulsação da outra. Tu sabes bem. Não tem, por certo, interesse. Para o outro, desligado comparsa. Nem para quem possa ver ou ler. Mas os sentidos importam. Valorizam e dão forma. Mesmo que a mensagem morra numa chávena de café, numas mãos que não sossegam ou num coração que ama sem desarmar. Tu sabes bem. Coragem. Era o que tu querias. Um dia.

2 comentários:

  1. E... ao contrário do que tantos teimam em declamar..
    isso do amor...sem expectativas é coisa que não acontece, não existe!!
    ou não é sentimento..
    mesmo pelo café, negro....quente e de um aroma perfeito a grão acabado de moer!!
    assim é o amor!!
    Beijinhos...e um bom ANO 2015!! :)

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  2. Nos Entas,
    Boas! :)
    Pertinente questão. O amor desavindo das expectativas não parece possível. Concordo. Por seu turno, pessoas que me são próximas usam o mesmo discurso. Não alinham num amor que deixa espaço para pensar no depois.
    Assim é o amor. Vivido de tantas e desfasadas formas :)

    Obrigado. Volta sempre.
    Um óptimo 2015 para ti e para o Mini.
    Beijinhos.
    Até já!

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